Vagueios indiscretos não guardados em mim

segunda-feira, 31 de março de 2014

e ao som dos primeiros acordes da música, tentei escrever o que sentia. este tão estranho e nojento sentimento. engraçado como, com o som forte da guitarra e do baixo, com a letra sabida de cor, deixo escapar uma expressão de desprezo, ainda que, por outro lado, me estejam a cantar ao ouvido completamente o contrário.
ultimamente tem sido assim, ou ouço música tão alto que me impeça de pensar, ou vejo filmes silenciosos, sem ação, que criem em mim qualquer outro sentimento. e tudo para te fugir.  só sei de algo que não faço: ler o que, em segredo, te escrevi no caderno branco que tenho escondido no meio da minha e só minha confusão. essa confusão que tu chegaste a conhecer tão bem.
acho que faço isso com todos os que, de algum modo, acabam por ficar com um pé dentro e outro fora da minha vida. esses indecisos que não sabem lidar com a tempestade que sou, mas que a adoram. ou essas tempestades que pensam que a verdadeira catástrofe sou eu, mas que, mesmo assim, me adoram. esses que me adoram tanto que me deixam sozinha, um tufão abandonado, um tsunami pela noite dentro, um nevão gelado pela manhã. fecho-os no caderno e não volto a olha-los. mas vejo-os. vejo-os todos os dias, mentalmente, toda a caligrafia, toda a tinta que deixei escapar da esferográfica quando acordava de madrugada com a febre de escrever-lhes(/escrevê-los?....). não sei quantos de vós inventei. não sei quais inventei. não sei quais são a mistura da minha imaginação, da minha melancolia, com a realidade. 

não sei de nenhum.                                                  não sei de mim.                                           sei só de ti.

e não quero saber. quero reagir contigo como reages comigo. e, quando tento, cresce-me uma acidez no estômago, sinto o ar dentro dos meus pulmões pesado, sinto os ombros serem empurrados para baixo com a maior das forças. um desconforto da cabeça aos pés. um aviso do meu corpo: tu não consegues.
então fico passiva, de parte, a olhar-te ao longe, a sorrir as mais pequenas coisas, à espera que alguma coisa te leve daqui. te leve para longe. à espera que algo apague tudo o que é teu. tu, as tuas marcas, a minha memória de ti, acima de tudo, a minha memória de ti.
já a tua memória de mim, espero que moa, mas não mate. espero que te faça ser tudo o que nunca quiseste ser. que te faça ser tudo o que não gostas de ser. e espero que te divirtas. fizeste crescer em mim o maior dos ódios, o maior dos nojos, o pior dos amores... mas fizeste-me viver. pelo menos por isso, obrigada.

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