Vagueios indiscretos não guardados em mim

terça-feira, 16 de agosto de 2011

nenhum sítio é realmente nosso até termos a certeza que ninguém nos ouve ali. e esses sítios são, geralmente, inexistentes.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

as palavras saíam-lhe da boca e os meus ouvidos recebiam-nas como lembrança do passado. o medo nascia na minha cabeça e nem o ambiente calmo do quarto me deixava menos melancólica. fechei-me ao que dizia a pensar porque associara o que ouvia a sentimentos do passado, por mim arrumados até ao último milímetro. foi quando a sua voz amaciou e as palavras adocicaram. de repente já não era a luz confortável do quarto ou os lençõis e as paredes brancas. de repente era o ar mais amarelo, o perfume a mel, os brancos edredons da cama que reflectiam o torrado doce da luz que enchia o quarto! era o conforto do outro lado dos sentimentos, e a voz dela que ia ficando mais baixinha e as palavras que se iam moldando nos meus ouvidos. a almofada ficou mais mole, mais afável, e o cansaço das pernas ficou mais leve e tornou-se num certo conforto que me fazia querer ficar no meio dos lençóis a ouvir a história onde reconhecia agora o meu presente.
sabes o que dizia? bocadinhos do que sinto, bocadinhos e pepitas de encontros desejados. bocadinhos de mel que lhe saíam da boca como que dizendo que sabe o que é estar apaixonada. na tão singular maneira dela. e eu entendendo na minha tão simplória forma de amar. querendo mais, ouvi, e a essas palavras, a reacção foi diferente. fechei-me ao resto, não me lembro de mais ter reparado no quão brancos os lençóis eram, mas lembro-me de pensar nuns olhos, num rosto, e nuns lábios.  pensei no que sentia, no tal aperto que sinto, na vontade de  um abraço. ela falara-me do quão diferente era, quase me chamando banal, eu não queria saber, se era igual a tudo ou a todos, era o que sentia, e ela voltava deitando-me ao chão porque com ela era diferente. mas quando se aprofundou bem no pensamento, viu como eu, e falou mais doce, mais suave e tocou música para os meus ouvidos. foi quando percebi que todos amamos diferente. mas sentimos igual.
acordei, abri os olhos mas logo os fechei. o dia já tinha aberto há muito aqui onde o sol se levanta bem perto. os lençóis reflectiam bem a tinta branca das paredes. acho que é o bom dos quartos brancos. reflectem tudo o que há de bom na luz que é espalhada. reflectem o optimismo. e é muito do que preciso. ainda hoje me disseram de uma forma estranhamente amorosa que era dramática. talvez em parte pela maneira como escrevo. ou se calhar até é só porque preciso que isto se torne tudo menos real, que seja tudo pior, tal como nos filmes que vejo. tal como nas histórias que conto. dramática ou não, realmente preferia acordar sempre num quarto de lençóis e paredes brancas, com luz igualmente clara a bater-me na cara mal abrisse os olhos. como ter o meu dia salvo por uma espécie de folha branca em que pintava o que queria. como os problemas fossem os problemas de hoje, não os de ontem ou os de amanhã. como se o que fica do que se passou há tempos não tivesse que ficar guardado de certa forma aqui dentro, apesar de todas as lições que me vão ensinando todos os pequeninos erros e todas as suas enormes consequências.
continuando a minha estranha e feliz forma de acordar, senti que havia uma vontade enorme de sorrir. e melhor, de respirar. lembrei-me que já tinha acordado uma vez. oito horas da manhã e o telemóvel despertou. a nossa vontade de acordar cedo para aproveitar cada raio de sol havia sido enorme no dia anterior. já o cansaço das poucas horas dormidas devido à conversa contínua da noite anterior prendeu-nos a todas à cama e àqueles lençóis brancos que emanavam uma tamanha calma que absorvia o dramatismo todo. tinha dormido bem, relaxada. o dia manteve-se calmo, e depois de me falarem do dramatismo da minha escrita, inconscientemente ou menos inconscientemente, os problemas(sinhos) do dia anterior, à tarde pareceram muito pouco. tão pouco que parecia que me queria irritar violentamente (ou só irritar um bocadinho) e não conseguia. se calhar estava relaxada pelos tais lençóis calmos e claros e pelo sol radiante que se manteve ali o dia todo.