Vagueios indiscretos não guardados em mim

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

as palavras saíam-lhe da boca e os meus ouvidos recebiam-nas como lembrança do passado. o medo nascia na minha cabeça e nem o ambiente calmo do quarto me deixava menos melancólica. fechei-me ao que dizia a pensar porque associara o que ouvia a sentimentos do passado, por mim arrumados até ao último milímetro. foi quando a sua voz amaciou e as palavras adocicaram. de repente já não era a luz confortável do quarto ou os lençõis e as paredes brancas. de repente era o ar mais amarelo, o perfume a mel, os brancos edredons da cama que reflectiam o torrado doce da luz que enchia o quarto! era o conforto do outro lado dos sentimentos, e a voz dela que ia ficando mais baixinha e as palavras que se iam moldando nos meus ouvidos. a almofada ficou mais mole, mais afável, e o cansaço das pernas ficou mais leve e tornou-se num certo conforto que me fazia querer ficar no meio dos lençóis a ouvir a história onde reconhecia agora o meu presente.
sabes o que dizia? bocadinhos do que sinto, bocadinhos e pepitas de encontros desejados. bocadinhos de mel que lhe saíam da boca como que dizendo que sabe o que é estar apaixonada. na tão singular maneira dela. e eu entendendo na minha tão simplória forma de amar. querendo mais, ouvi, e a essas palavras, a reacção foi diferente. fechei-me ao resto, não me lembro de mais ter reparado no quão brancos os lençóis eram, mas lembro-me de pensar nuns olhos, num rosto, e nuns lábios.  pensei no que sentia, no tal aperto que sinto, na vontade de  um abraço. ela falara-me do quão diferente era, quase me chamando banal, eu não queria saber, se era igual a tudo ou a todos, era o que sentia, e ela voltava deitando-me ao chão porque com ela era diferente. mas quando se aprofundou bem no pensamento, viu como eu, e falou mais doce, mais suave e tocou música para os meus ouvidos. foi quando percebi que todos amamos diferente. mas sentimos igual.

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