Vagueios indiscretos não guardados em mim

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

as lágrimas correm como a chuva. pergunto-me como é que o dia esconde tantos sons que só a noite nos revela. um carro ao fundo, os passos de alguém, assaltos imaginários de que me falaram. o frio gela-me os ossos e sinto a cara a estalar. é madrugada já alta e nenhum dos sons me assusta. tenho medo é de eu assustar o que de mal se faz por ali. afinal, uma miúda ruiva a chorar com os lábios e as mãos em sangue a gritar o nome de alguém não deve ser bonito de se ver.

domingo, 23 de dezembro de 2012

nao há fogo que conheça mãos por mim.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

e eu que queria tanto deixar morrer esta pessoa, queria tanto acalmar esta confiança que sentia sempre que avançava para alguém na intenção de resolver assuntos pendentes. eu sou a érica, e voltei bastante mais alegre, infelizmente para alguns.

terça-feira, 24 de julho de 2012

(re)encontro

apetecia-me ser pequenina, chamar amigos a todos, ter um verão pré-programado pelos pais: casa dos avós, a brincar com os primos e a comer bolinhos de bacalhau e rissóis antes do almoço, e arroz de frango as vezes que me apetecesse. apetecia-me ver os desenhos animados de manhã, não me preocupar com as horas ou os dias a passar, não ter de apanhar este ou aquele autocarro porque tenho de fazer isto e aquilo. é chato estar nesta idade. ficar em casa fechado é crime, tanto para mim, como para os meus pais, como para a estúpida e inexistente reputação social, quem é o ser que não vai à praia no verão, ou ao shopping, ou mesmo aos jantares que teimam em marcar? então, se é crime, vamos sair. vamos sair... e entrar no autocarro. que só me leva até ali. dali para não sei onde a pé e depois, quiçá, não apanho o metro para acolá. cansa ser dependente e independente. estar ali no meio. ter chave de casa mas não sair e chegar quando quero. ter dinheiro e não ser meu. ser grande, mas pequena. tomar decisões, mas não escolher. ver o mundo, quando ele não me vê. credo... olhando agora para isto, não sei se algum dia, alguma idade será ideal. ou a mais, ou a menos. ou nem uma coisa nem outra. ter de pensar no futuro e não o poder escolher... é quase como tentar mexer no passado... mas ser criança não é só dormir na sala dos avós com os primos, não é só em relação à idade, não é só em relação ao pequeno almoço que a avó nos leva quando descobre que estamos acordados há quase tanto tempo como ela a ver bonecos na caixinha magica. disseram-me hoje que eu encontrei a minha criança interior. existem mais nomes para este estado de espírito, mas a este, achei uma piada particular... tenho dado por mim a amar o mundo. a querer abraçar cada flor, a sorrir para cada árvore, a admirar cada pedaço de plástico, cada cor, cada brilho. a sentir um afeto enorme por animais que sempre me causaram algum desconforto, a adorar cada pedaço de comida, cada sabor, cada evolução- natural ou criada pelo homem. tenho-me encontrado apaixonadíssima por cada passo que dou, por cada ser vivo, por cada objeto. tenho-me encontrado. e a verdade é que nunca em criança senti isto, daí não perceber a expressão "criança interior". será que os adultos não sentem isto? tenho medo de não sentir-me assim, nesta sintonia com o mundo, nesta paz libertadora para sempre... ser adolescente, pelos vistos, passa por andar no meio. por ter um quarto e fazer a nossa própria comida, mas não ter uma casa. e deslocar-me sem ter carro. e beber café mas sem licença (do médico), ou dar-me com as pessoas, dar-me a elas, mas olhar para trás e ver que não sei que amigos tenho aqui. passa por ter de lidar com o físico, fruto da educação ociental, mas admirar o lado natura, o lado espiritual das coisas que vem dum crescimento interior muito mais oriental. ser adolescente aqui é estar entre o oriente e o ocidente e não poder escolher. é andar de autocarro, ficar sem bateria no telemóvel, ouvir sermões, amar os pais, beber café e coca cola à noite. é comer uma francesinha inteira, pedir um menú grande, cozinhar, arrumar e desarrumar. é ter amigos que os pais não conhecem. ser adolescente é ir. não é partir, não é chegar. é ir. é o caminho. é crescer.

para ti, que ainda és pequena e que recentemente te consideraste adolescente: espero que aqui chegues tão bem como eu. sim, aqui. porque podes nao ser criança, podes não ser adulta, mas ainda não andas de autocarro sozinha, não arrumas, não cozinhas, mas acima de tudo, ainda tens muita paz para encontrar em cada pétala, cada borboleta, e muito para admirar em cada personalidade, em cada pessoa, em cada ser vivo e em cada umas das suas funções. boa viagem

quinta-feira, 28 de junho de 2012

à noite na minha cabeça

essa fantasia do mundo. a perfeição dos traços de cada um de nós. presentes nestes corpos, máquinas perfeitas, a trabalhar, com cada célula, cada organelo, cada função no seu sítio. as árvores e o seu sistemas de transporte, xilema e floema que tanto odiei enquanto os devia estudar. um recolhe da terra, o outro leva o produto à células para se dar o crescimento. este mundo, esta natureza, em que tudo está oleado ao mais ínfimo pormenor, à mais ínfima partícula que, fora do sítio, causa desacato no mundo inteiro. com menos umas partículas no céu, cá em baixo a temperatura oscila. e essa roda, esse fogo, descobertas da humanidade. humanidade que funciona apenas se tudo estiver no seu lugar, se houver a certa quantidade disto e daquilo aqui e acolá, se esta e aquela reação se der no sítio certo e da maneira e nas proporções corretas. o que é isto!!? quem inventou? quem dispôs as coisas de um modo tão perfeito? quem fez com que evoluíssemos assim? porque não termos uma cauda em vez deste tão particular osso chamado cóxis? e porque as mudanças do clima e da florestação nos fizeram passar a andar sobre duas patas e a tantos outros animais não? este mundo não é tão incrível? toda uma máquina, bem oleada, a funcionar para produzir sabe-se lá o quê.

esta máquina funciona para produzir funcionamento, se calhar é isso.

porque se falha a geosfera, falha a biosfera e todas as outras qualquercoisaesferas vão atrás. mas, pelo contrário, se funciona, apenas faz com quem tudo o resto funcione para fazê-la funcionar. ai... tanta coisa fantástica resumida numa só ideia. ou serão várias? será legítimo pensar que os medicamentos que tomo fazem este mundo melhor? se sou capaz de pensar nisto, porque não sou capaz de viver sem eles? de fazer o mundo funcionar sem eles? e não será esta página uma folha de pensamentos aleatórios? que é dessa embriaguez do sono que saem todas estas palavras, essa bebedeira do sono, esse estado mental, que te faz ter conversas com pessoas que apenas olhavas, que te faz soltar palavra a palavra tudo, TUDO, o que te vai no pensamento... essa cegueira das horas sem descanso que te faz VER em vez de OLHAR. provavelmente, tudo saiu daí. porque hoje, e como sempre, houve uma tempestade no meu copo de água. uma tempestade que nao é nada, comparando com a tempestade que pode existir num continente qualquer, num oceano longínquo. mas por enquanto, por aqui, é mais do que uma tragédia natural. é o fim dos sorrisos, é o olhar triste e cansado, é cada lágrima que corre, cada minutos sem dormir, cada aceleração da pequena máquina que também aqui dentro temos. o problema é esse. é que essas reais tragédias, verdadeiras razões para sofrer a sério, se dão sempre longe. continente asiático, catástrofes naturais. continente africano, mais do que natural, lamentavelmente, humano. mas aqui, com pais separados, discussões por nos sentirmos mal amados, situações de desconforto e indecisão, aqui é que nós sofremos. aqui é que se dá a verdadeira tempestade. pena é que não percebamos que é uma tempestade no nosso copo. e, às vezes, o nosso copo nem ao tamanho dos copos de "shot" chegam. às vezes, há uma tempestade na nossa gota, há um pensamento de acabar com a vida, quando no tanque de alguém, no grande aquário de alguém, já nem água para tempestade existe... bem, vou mas é dormir que isto é tudo sono.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

a desculpa está para o perdão, como a promessa para a jura. a uns, eu prometo que desculpo. a outros, juro que perdoo.

domingo, 11 de março de 2012

sonhos derrubados, empurrões em forma de palavras. quase sinto a dor de cair, o desconforto que sentimos quando encontramos o chão de uma forma bruta da qual não estávamos à espera. e tudo isto com meia dúzia de palavras de alguém que em três anos desaparece para sempre da nossa vida. parece algo simples, mas não é. a meia dúzia de palavras repete-se por meia dúzia de dias, depois, por meia dúzia de semanas. já vamos em meia dúzia de meses e, acreditem ou não, não derramei só meia dúzia de lágrimas, nem chorei meia dúzia de vezes, nem pensei em desistir apenas outras tantas.
olho para a nossa volta. todos parecem aguentar o secundário, todos parecem ter todo o tipo de problemas, menos o nosso. todos parecem continuar a sonhar e a batalhar para chegar lá, e nós? nós batalhamos para que nos deixem ter um sonho. não vivi outras experiências, mas não me parece que isto seja o correto.
chego a casa e ninguém está ainda, o ambiente da minha casa, o ambiente do meu lar conforta-me, e choro. choro porque sei que aqui ninguém me vai julgar por chorar. penso em tudo o que ouvi e choro mais. e enquanto choro, penso no dia de amanhã, na aula de amanhã, e choro, choro ainda mais. choro até adormecer e volto a acordar, numa calma intacta, com uma cara sem expressão ou uma expressão sem cara, acordo conformada que o medo que tenho do que vou ouvir não vai ajudar em nada. acordo insensível, sem vontade de rir ou chorar mais. se por acaso a conversa ao jantar traz o assunto à minha mente, espero até chegar ao quarto para voltar a chorar. e no dia seguinte, quando acordo pela manhã, acordo logo com vontade de voltar a soltar o nó que, não sei como, ainda não desapareceu. e então, volto a chorar. volto a chorar, visto-me a chorar, paro para comer e saio de casa a correr, a chorar, mas o vento seca-me a cara, e então, quando entro no autocarro, já vou fria, congelada, com a música alta, a olhar para o infinito, sem força para voltar a chorar, mas com o medo presente dentro da minha cabeça. o medo de me zangar a sério, de me revoltar com o que ele me diz, com o medo de ouvir o que ele diz aos outros, de ouvir as acusações dele, de ouvir que a vida é feita apenas de frustrações, que a culpa de tudo é nossa, que a vida é um projeto falhado.
se calhar o medo que tenho é que ele esteja a contar-nos a verdade. mas eu nunca descobriria isso se ele não tivesse dito aquilo assim. eu depararia-me com as frustrações e daria a volta por algum lado, mas ia dar a volta e ia atrás de outros sonhos, de novas tentativas. mas ele já contou o fim, e não me deixou sequer pensar noutro sonho. é que, segundo ele, vamos sempre falhar. sempre. e só vamos falhar porque somos assim e assado, desta ou daquela maneira. porque ele é que não falhou, ele é que sofreu a sério, e nunca falhou, ele é que é. nós nada somos.
se calhar o que me apetecia era pegar num bonito texto, mostrando-lhe tudo o que vai cá dentro, e lê-lo no mesmo tom em que ele nos leu, outro dia, o incrível texto de mia couto, que criticava já não sei o quê, mas que me deixou tão revoltada por, mais uma vez, o professor estar a afirmar a sua razão e a gritar "vocês não conseguem, nunca vão conseguir" por palavras bonitas e floreadas com recursos estilísticos imensos, escritos por quem os sabe usar melhor.
ainda tenho a voz e o tom que escolheu para ler aquilo na minha cabeça, e fogo, continuo com uma vontade de chorar tão grande só por isso. só por não me poder revoltar, por não poder dizer o que aqui vai dentro. por saber que muitos outros, os vossos filhos, ainda choram, alguns até às escondidas, pela mesma razão que eu.
batemos no fundo quando alguém nos chama "desilusão", quando alguém não acredita em nós, quando, em simultâneo, nós não acreditamos em nós por coisas destas, quando deixamos de acreditar em nós mesmos.
digam-me agora, não o que vai ser feito desta geração que foi habituada a tudo, como criticava mia couto, mas sim o que vai ser feito de uma geração sem sonhos graças a pessoas como esta, que apenas estão connosco oito horas por semana. digam-me, expliquem, como querem um futuro para nós, quando tudo é que fazem é tirarem-nos o tapete a que nos agarramos? como é que esta pessoa quer que tenhamos sonhos se nada do que sonhamos lhe serve como resposta? se tudo o que dizemos gera desilusão nele, ou se tudo o que dizemos o faz arregaçar as mangas, pôr a sua cara de maior desprezo e o seu tom mais irónico e, mais uma vez, o faz atirar-nos ao chão, com aquelas palavras que só ele sabe e que nem nós conseguimos trazer todas para fora da sala? para que todos conheçam as duas partes, para que todos ouçam o que ele diz a alunos tão mal educados ou tão arrogantes, como ele diz que somos. ou melhor, queríamos trazer-vos o seu olhar de soslaio depois de falarmos e antes de se virar para o quadro e mudar de assunto.
queria trazer-vos eu própria as lágrimas que deixei cair ali na frente dele quando me disse que uma aluna como eu nunca devia ter entrado ali, que eu não ia ser ninguém na vida, que eu era isto e aquilo. e queria trazer-vos a minha reação quando o cenário se repetiu e eu fiquei simplesmente calada porque não conseguia voltar a ouvir aquilo. queria trazer-vos o ambiente que ficou entre as quatro paredes quando nos disse de forma subtil que ia continuar a ser nosso professor para o ano, quando nós só esperávamos ter de aguentar até ao final do 3º período. queria trazer-vos as próprias aulas, queria trazer-vos a revolta dentro de alguns de nós. mas em vez disso, trouxe-vos este texto. este texto coberto de lágrimas e suspiros tristes, fruto de tudo o que queria mostrar-vos e não posso.
e mentalmente vou lendo o que escrevo, imaginando-me a falar no tom dele, com a entoação que fez naquela terça feira, com a força de quem nunca chorou por isto, eu e os meus colegas comigo, aqueles que vi chorar de desespero porque não sabem mais o que fazer. nós, e ele, convosco a ouvir tudo. com ele a ouvir tudo. a ouvir como também nós estamos tristes por isto, como nós ficamos afetados com as coisas que ele nos diz, como nós ficamos ao saber que nada podemos fazer e sempre que abrimos a boca sobre isto e alguém simplesmente nos manda calar. quando o que queremos mais é sair daqui, dizer tudo o que pensamos e sair, mostrar tudo, dizer tudo sem ouvir uma palavra mais alta a meio, berrar, gritar, se calhar parar de falar e chorar um bocadinho pequeno para ter força para continuar. mas queriamos poder dizer o que pensamos, queiramos poder defender-nos e sentir algum apoio por parte da escola, por parte de quem, até agora, ouviu tudo o que ele dizia e nos mostrava a sua reprovação e desilusão. queríamos isso tudo, mas nada podemos. porque afinal, a vida é um projeto falhdo e uma sucessão de desilusões e frustrações, afinal, (e faço aqui uma pausa, tal e qual como ele fazia ao ler aquela crónica), afinal nós nem somos capazes. afinal,nós somos mimados, mal habituados, e ele é que sabe o que é sofrer.
e mais uma vez, sinto a dor de quem cai, sinto o desconforto depois do encontro com o chão, sinto dores nos ombros do empurrão que acabei de levar por palavras tão altas, tão frias, e tão intocáveis que ele acabou de dizer-nos.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

chegou outra. não é nova por cá. tem vindo várias vezes, já, mas achei que não era digna de ter um nome, que não merecia a devida atenção. que se poderia chamar de «fase» ou outro algo passageiro. pelos vistos não. é agressiva, objetiva, revoltada.
passa o limite da ironia- escolhe o sarcasmo.
ainda não me disse o nome dela e acho que vai jogar comigo até que lhe implore e reúna tudo no mesmo momento. todas elas no mesmo segundo, numa só tempestade.
vou esperar que se vá embora e pensar no que lhe vou chamar. embora só mesmo sentida, merece um nome.
vou falar com ela, enquanto ainda não tem a música violenta nas alturas e ainda não se ri duma maneira incrivelmente má na minha cara.
vou falar com ela enquanto a cara de nojo não se instala na minha cara e não me deixa naquele estado. vou falar com ela enquanto não toma conta de mim, enquanto não não deixo de ser eu própria pra passar a ser outra própria chamada eu.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

as pessoas seguem em frente. essa é a realidade e como tal não deve ser contornada por adjetivos que a tornem mais suave ou que melhorem o sentimento. elas vão-se embora, e algumas, sem motivo aparente. outras, com motivo mas sem razão. e tu ficas. é simples, não compliques.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

tenho saudades de sentir a capacidade de cativar. de estar lá, sorrir, e sentir os olhares. tenho saudades de estar sozinha e de me sentir cheia de gente. tenho saudades de estar cheia de gente à minha volta, concentrar-me na música e de repente estar sozinha. tenho saudades de não ter medo. tenho saudades da atitude, do teatro, do sentimento que expressava de cada vez que pegava numa coreografia. tenho saudades de saber, de me sentir bonita, de me sentir no poder de dançar, naquela vontade que aperta o peito, que faz relembrar todos os passos e saltos que dum momento passam pela cabeça de quem sente a música que está a ouvir, que faz logo mexer o corpo, que faz um grito prender-se na garganta. tenho pena de ter de controlar isso, ainda pra mais, por falta de confiança.
mas o bichinho continua cá dentro, a vontade daquele jogo, a troca de olhares com quem vê, com quem dança, o sorriso na cara, os cabelos soltos e presos que tanto experimentava antes de tudo.
o sentimento está cá dentro, a vontade está aqui, e sai... de vez em quando sai, grita, salta, e corre bem. mas a porta está fechada. e a luz apagada. é assim que se dança na felicidade depois de um dia feliz.