Vagueios indiscretos não guardados em mim

segunda-feira, 5 de julho de 2010

a tempestade pode não ter acalmado, mas eu já.
a confusão da minha cabeça, simplificou-se. dum momento para o outro, pensei na confusão das minhas linhas, na revolta das minhas palavras, na agonia da garganta, nas maldosas letras que escreviam e descreviam todos os dias da minha miserável e exagerada vida. pensei na falta dos tais pilares, no objectivo da palavra ajudar quando nos dão um oco obrigado, na partilha de falsos sorrisos. pensei, simultâneamente nos verdadeiros apoios, nos choros de riso, na dor de barriga após a diversão, no orgulho sentido após um bom abraço.
o ícone de confusão, o que me fazia tropeçar nas palavras, o que me fazia causar repetições, o causador da tal agonia. o simples vulto que passava a mostrar-se, sorrindo, desapareceu.
quando estava vazia de pensamentos, a imagem da minha cabeça era abstracta, indefinida, não era concreta, era escura. e resultava duma escrita obscura, que revoltava quem a lia.
lembro-me dos outros pedaços de texto, bons pedaços dum longo período de vida, em que as imagens são meio apagadas, mas a dor é sentida.
após alguns pensamentos, após alguns comentários, após o tal choro, apercebi-me de que na verdade, para viver, apenas preciso de estar viva. pois. a definição de «estar viva», neste momento é a maneira de me encontrar a mim mesma, na companhia de outros. estando ou não feliz, mas sabendo que a minha cabeça está ciente do que se passa à minha volta. permanecendo sã, ocultando toda a loucura que em tempos já passados, vivi. ocultando, nunca esquecendo. é a tal loucura que me serve de comparação e que agora me garante que eu estou bem.
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as linhas da minha cabeça desembaraçaram-se, deixando apenas uma, em tons claros, sobre um fundo branco e calmante. sobre um fundo branco que descreve com fiel perfeição o que quero da vida neste momento. que descreve o que quero realmente ser e parecer. que transmite a paz com que quero viver.
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o tempo só pra mim já está tirado. vai ser apenas um tempo para mim, e já não para uma grande reflexão do que se passou e passa à minha volta. são umas férias de mim para mim. é o tempo em que saio do meu corpo em cada acção e avalio cada atitude. esse tempo é meu e da minha paz interior, finalmente atingida.