Vagueios indiscretos não guardados em mim

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

sei que cresci. as minhas pernas estão mais compridas. o meu cabelo também cresceu. muito. e ganhou madeixas claras por causa do sol. gosto de usá-lo apanhado nos dias de maior calor. os meus olhos estão mais claros, também. a minha imaginação está menor. talvez não tenha um raciocínio tão rápido. e talvez queira deixar que as coisas aconteçam à minha frente sem querer reparar nelas.
mas acho que foi a forma que encontrei para crescer. e sinceramente, no meu interior algo me diz que foi a forma certa.
aprendi imenso. logo, cresci imenso. aprendi a ignorar certas partes estúpidas da minha (estúpida) vida. há coisas que não são suficientemente estúpidas para se manterem em mim. muito provavelmente, é na estupidez que encontro a minha felicidade.
felicidade essa que está também na paz que encontro ao não mostrar tudo. o ter cartas na manga. ou talvez o simples facto de ter aprendido a ser discreta. porque cartas na manga não as tenho.
é outra das coisas que esqueci. o «conto agora ou depois.», o «sorrio porque parece bem e porque é o mais correcto», tornou-se num «conto se na altura me apetecer. falo se me lembrar.» e num simples «sorrio se me der pra sorrir».
acho que passei uma grande parte do tempo a achar que a vida era isso. guardar coisas que me podem dar jeito mais tarde. e afinal não é assim. não, nem nunca foi. mas acho que todos pensam assim. todos, ou quase todos.
foi aqui que me apercebi da grandiosidade dela. sorria pra mim, sorriu comigo. conseguia abstrair-se das coisas fúteis e viver a vida naquela sua simplicidade. também se passava, também chorava. mas no fim sorria. via sempre algo de novo. como se uma nova página branca se abrisse todas as manhãs. ou como se uma hora mal passada fosse apenas um rascunho que rasgava... que no fundo, também ficava guardado.
talvez tenha falado naquela estupidez, na tal inocência e na filosofia do «não é nada comigo» como uma forma de ser, de certo modo, ignorante. não foi de todo o que quis dizer. é nos rascunhos que se começa algo novo. e esse projecto é sempre uma fusão de um rascunho com algo que faria parte de outro. a cada página virada, a cada rascunho rasgado, fica sempre algo marcado na vida de quem os desenhou.
a filipa sempre transmitiu paz. sempre disse o que sempre me pareceu certo.
podia mostrar que havia quem lhe passasse por cima, que não estava com a realidade. mas era apenas isso. o que ela mostrava.
comportando-nos assim, se soubermos quem somos, nunca vamos ser o que mostramos aos outros. e isso é o mais importante.