Vagueios indiscretos não guardados em mim

domingo, 30 de outubro de 2011

domingos de inverno

ai o domingo. o dia em que todo o tempo do mundo está connosco e deixa de estar. o dia em que o tempo vem almoçar a nossa casa, com a maior das calmas, em que o almoço é mais preparado, quando se liga o forno, quando se come na sala, quando o som dos filmes da televisão está ligado num tom baixinho que não deixa perceber o que está a acontecer e nos obriga a ficar o resto da tarde a olhar para as legendas, sentados e deitados ao mesmo tempo ali no cantinho do sofá, possivelmente, até com os livros e os cadernos que tanto tínhamos que estudar em cima de nós, ou até mesmo, ao nosso lado, vendo connosco as cenas variadas dos filmes variadíssimos que vamos saltando de canal em canal, de preferência, entre os enormes intervalos de cada um dos primeiros quatro canais da televisão portuguesa. o dia em que temos tudo para fazer e de repente olhamos pela janela e é de noite, noite já cerrada, num fim de tarde que veio cedo demais para sequer nos dar tempo de cumprir todas as tarefas a que nos propusemos. "oh, se ao menos tivesse mais um dia"

domingo, 16 de outubro de 2011

E estava assim parado o homem, parado no tempo como quem nao se importa com o que o futuro para ali reserva, com olhar no infinito, uma das mãos no bolso e a outra levando o cigarro à boca. um cigarro obviamente oferecido, este homem nao tem dinheiro. Nao tem dinheiro nem pra cigarros, nem pra novas roupas, pra desfazer a barba ou sequer comer. Há uns dez minutos estava a pedir-me dinheiro. Se soubesse tinha lhe oferecido um cigarro dos meus, se saciava a espera por algo melhor, teria sido um bom gesto. Pergunto-me muitas vezes porque é que as pessoas tem o vicio de olhar para algo que nem existe, de (des)focar uma imagem e olhar para o que nao conseguem ver durante muito e muito tempo. Melhor que esse vicio, temos o facto de ele estar ali a espera de algo. Ou entao a espera de nada, sim, porque aquele homem parece tentar fazer acontecer muitas vezes. este podia bem ser um momento em que nada esperava, como que tirando uma pausa da espera do futuro que procura.
Nao sei o que é do meu, mas sei que já estive e já quis ficar assim demasiadas vezes, por isso agora vou a procura de outra coisa. Um presente.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

reparei que os teus olhos ainda se prendem nos meus. reparei que choro de cada vez que ouço a primavera. entristeço no pensamento das tardes com as àrvores e o sol que transparecia por entre as folhas. é estranho como o facto de alguém desaparecer da minha vida se deu raramente. ou melhor dizendo, nunca se deu. nunca. mas tu ficas marcado numa outra presença, uma outra força, outra vontade que ultrapassa todo o desespero que conheceste em mim por outra pessoa. é um desespero triste, cheio de saudades, que ri e sorri quando percebemos os dois que há algo pendente por aqui. não sei porquê. a vontade de deixar o meu olhar cruzado com o teu devia ser infinita. e é. mas deixa-se interromper pelo riso que não sei de onde sai. e o teu ar de incomodado que pelos vistos sai da falsa superioridade que aparentas quando me tento a falar contigo. imagino o contacto contigo como forma de consolo ao pensamento de melancolia que abraça a saudade. que abraça a saudade como eu própria te queria abraçar e ouvir mais uma vez palavras de consolo ao dia péssimo, à condição horrível ou simplesmente à tua falta. queria chorar e magoar-me ao ponto de querer bater-te. porque nao iimporta o quanto uma pessoa nos magoa, se a amamos, deixá-la ia custar-nos muito mais. deixar-te foi horrível. perder-te ultrapassou todos os extremos limites de algo que não reconheci de início. sei que tudo o que dissemos foram meias verdades e lamento por isso. lamento que tenhamos chegado ao ponto de em situações pontuais termos de dizer que nos odiamos e mostrar isso.
lamento ter de chorar à frente do teu sorriso morto que todos pensam estar a respirar bem.
lamento que o facto de olhar pra ti te faça quase como obrigar-te a devolver-me o olhar perturbado de quem tem demais pra dizer.
tenho muito pra te transmitir, tenho mesmo muito. mas as palavras correm e levam-me o chão atrás, por isso fico-me por isto: tenho saudades tuas, como é que estás? (agora diz-me o mesmo, mas sem mentir)